08 julho 2011

Eu - o estrangeiro

Eu.
Começo a desenhar a pertença que não tenho. Me seguro na imprecisão de um horizonte que não vejo. Caminho por debaixo de pontes. E sigo. Sozinho. Eu. Navio singrando mares castanhos dos olhos que me refletem. Nada está perto. Ao longe, mais que deserto, escrevo meu amor no dorso dele que não me pertence. Escrevo rascunhos por cima da obra final dele, tão somente, só assim aprendo esperar.

Eu.
Enfeito-me daquela poesia e respiro esperança. Me lanço em calmarias. Negocio com o tédio, pois no que vejo tem a tal  poesia... Seguro-me na mão do mistério para entender esta duração. Sem roupas e sem certezas caminho a falta de pertença que traduz minha solidão. E beijo o dorso dele. E me faço carinho. E com ternura invado um mundo que não sei habitar. Invado com a delicadeza deste amor. Vazio - escapo para o virtual do que sinto e nisso, há a presença dele. E nisso, minha falta de pertença é maior.

Eu.
O estrangeiro. O sem lugar. O que se recolhe ao som do carinho. O que escreve como terapia. O para além. Aquele que nada nos olhos do anjo. Que cura suas asas. Que o traz para dentro. Que o transforma em menino e deus. O que desmorona na configuração do adeus. O que segue seus versos estrelares. Eu,  em sofreguidão resgatado pelo vento. O esmagado pelo tempo. O poeta sem solução.

O mito de Eros e Psique

Em um reino vivem o rei, a rainha e suas três filhas. Duas princesas são mulheres sem grandes atrativos e não são pessoas que se destacam em meio às outras pessoas, porém a princesa mais nova, que se chama Psiquê, é extraordinariamente bela e naturalmente é notada por todos, devido não só à sua beleza, mas também ao seu charme, personalidade e forma de agir e falar. Tais características fazem com que ela tenha um porte de deusa e as pessoas à sua volta, em razão de sua notável presença, realmente a veneram e até a cultuam, chegando, inclusive, a dizerem: “Eis aí a nova Afrodite, eis aí uma nova deusa”.
Afrodite, a deusa da feminilidade, começou a perceber a adoração que era destinada à Psiquê e muitos já comentavam que Psiquê estaria tomando o lugar dela.
Psiquê é a preocupação de seus pais porque suas filhas mais velhas, apesar de não serem tão encantadoras quanto ela, já estão felizes e casadas com reis de reinos vizinhos, porém não aparece ninguém para pedir a mão da formosa Psiquê. O rei então decide consultar um oráculo, porém o oráculo que o rei consulta é dominado por Afrodite que com inveja e raiva de Psiquê faz com que a resposta do oráculo seja uma terrível profecia: Psiquê deveria desposar uma criatura horrível e repulsiva. Psiquê é levada em uma procissão para o casamento como se este fosse um cortejo fúnebre e então é acorrentada em uma pedra no alto de uma montanha. As lágrimas do cerimonial e os adornos são misturados em razão do casamento e também do funeral. Rei e rainha choram, apagam suas tochas e Psiquê é ali deixada para ser entregue à terrível criatura.
Afrodite para consolidar o seu plano de destruir Psiquê pede a ajuda de seu filho Eros, o deus que era temido até pelos próprios deuses, pois até mesmo Zeus, o mais poderoso deus do Olimpo nada poderia fazer contra suas flechas que quando atingiam alguém faziam com que fosse dominado pela paixão. O plano de Afrodite era o de que Eros (também conhecido como Cupido) lançasse uma flecha em Psiquê para que ela se apaixonasse pelo seu futuro esposo. Eros, porém, ao ver Psiquê se distrai e acidentalmente acaba espetando seu próprio dedo com uma de suas flechas e então é ele, o deus do amor, quem acaba se apaixonando por Psiquê. Eros, porém, ao ver Psiquê se distrai e acidentalmente acaba espetando seu próprio dedo com uma de suas flechas e então é ele, o deus do amor, quem acaba se apaixonando por Psiquê. Tomado pela paixão, Eros pede a Zéfiro, o Vento Oeste, que leve sua amada para o Vale do Paraíso.
 
 
Psiquê que seria, até então, entregue à terrível criatura agora se encontra num paraíso e diante da situação aceita-a maravilhada, principalmente por ter sido deixada numa linda sala com música, comida e servos. Ali no Paraíso a diversão e a beleza eram presentes em todos os dias e a situação atual era muito mais favorável do que a anterior quando estava sendo entregue à morte.
Psiquê se encanta com o Paraíso. Ela agora vive num lugar onde tem tudo o que quer e é a mulher de um deus. Mas condições foram impostas à Psiquê para que ela pudesse continuar morando no Paraíso: ela nunca poderia olhar para seu marido quando este a procurasse todas as noites e ela também nunca poderia lhe fazer qualquer pergunta sobre seus atos. Psiquê, por querer continuar sendo a sua esposa, aceita todas as suas condições.
As irmãs de Psiquê ao saberem que ela estava morando num paraíso e casada com um deus ficaram com muita inveja, mas procuraram esconder sua inveja e foram até à montanha onde Psiquê fora levada em sacrifício e a invocaram para lhe cumprimentar e perguntar como estava sua saúde e Psiquê as atendeu e teve contato com elas.
 
 
Psiquê à noite conta para Eros seu encontro com as irmãs e este a adverte que isso era muito perigoso e ela não deveria dar ouvidos à elas. Eros disse à Psiquê que estava grávida que ela deveria manter a obediência que prometera a ele porque senão poderia acontecer algo terrível: a criança que nasceria seria uma mulher mortal e ele a abandonaria. Psiquê diz continuará não lhe fazendo perguntas e seguirá suas ordens, porém as irmãs de Psiquê continuam a procurá-la e Psiquê pede a Eros consentimento para vê-las e ele, por fim, consente. As irmãs de Psiquê são então levadas pelo Vento Oeste e descem no jardim do paraíso de Eros e Psiquê e a inveja delas aumenta a cada passo que dão no paraíso. Psiquê é bombardeada de perguntas pelas irmãs e Psiquê não estrutura para lidar com a pressão e argumenta com as irmãs que seu marido é muito jovem e amável e que passava a maior parte do tempo caçando. Antes das irmãs partirem, Psique dá a elas preciosos presentes.
Eros novamente adverte Psiquê do perigo das visitas de suas irmãs, mas Psiquê insiste e as irmãs acabam por voltar e após a visita as irmãs de Psiquê tecem um terrível plano e quando retornam pela terceira vez dizem à Psiquê que seu marido era, na verdade, uma repugnante serpente e que o plano dele era devorar tanto ela quanto seu filho e que isso aconteceria assim que a criança nascesse, mas que elas a ajudariam a livrar-se de tão horrível destino. Elas dizem à Psiquê que ele deveria colocar na cabeceira de sua cama uma lâmpada em uma redoma e uma faca muito afiada embaixo de seu travesseiro e que quando Eros viesse visitá-la à noite ela deveria esperar ele dormir e então cortar sua cabeça. A ingênua Psiquê é persuadida por suas irmãs e decide levar avante o plano das irmãs. Eros então aparece à noite para seu encontro com Psiquê e, após ele dormir, Psiquê coloca-se ao lado da cama, apanha a faca e acende a lâmpada e olha para Eros. Psiquê fica deslumbrada com a beleza de seu marido, ele era a criatura mais bela que já havia visto e então se sente inundada de culpa diante do deus do amor e, pela primeira vez pensa em suicídio. Psiquê, nervosa deixa sua faca cair e desajeitada pelo nervosismo acaba por acidentalmente se espetar numa das flechas de Eros e instantaneamente se apaixona por ele. Ela afasta a lâmpada do rosto de Eros, mas uma gota de óleo quente cai no ombro direito do deus e a dor o acorda.
 
 
Eros percebe o que acontecera e tenta voar para longe de Psiquê, mas ela o segura e agarrada em Eros sai do Paraíso, porém não agüenta se segurar por muito tempo e cai. Eros pousa perto dela e diz que ela a desobedecera e que tinha quebrado a sua promessa e que a punição por isso seria a ausência dele além de que o filho que ela carregava nasceria mortal e então voa deixando Psiquê sozinha.
Psiquê ao ver Eros voando embora pensa em se suicidar jogando-se no rio, porém Pan, o deus dos pés fendidos e a ninfa Eco que estão à beira do rio convencem-na de não fazer tal coisa. Pan diz para Psiquê rezar a Eros, pois ele é o deus do amor e compreende aqueles que sofrem em razão do amor e que, desta forma, a entenderia e a aceitaria de volta. Psique reza para Eros, mas, ao invés, de procurar diretamente o deus do amor ele prefere procurar ajuda em vários templos de deusas, mas ela foi rejeitada em todos os templos, pois temiam que Afrodite considerasse isso uma proteção à jovem que feriu seu filho. Psiquê então percebe que precisa procurar diretamente Afrodite e é isto que ela faz. Afrodite a recebe e com duras palavras diz que não serve para nada além de tarefas subalternas e que a única forma de conseguir libertar-se de tal desígnio seria ela cumprindo quatro tarefas que ela, Afrodite, indicaria a ela.
Na primeira tarefa proposta por Afrodite ela mostra uma enorme montanha de sementes de tipos diferentes e diz à Psiquê que ela deverá separar e selecionar cada tipo de semente antes do anoitecer e se ele não conseguir executar a tarefa o seu castigo será a morte. Afrodite se vai e Psiquê se vê desconsolada diante da montanha de sementes, então se senta e espera uma solução e acaba por adormecer. Durante seu sono aparecem milhares de formigas que, grão por grão, separam cada semente de acordo com a sua espécie e Psiquê ao acordar viu que a tarefa estava cumprida.
A segunda tarefa imposta por Afrodite será a de que Psiquê busque o tosão de ouro – lã de ouro – dos ferozes carneiros que pastam na margem oposta do rio e novamente diz que se a tarefa não for cumprida o castigo será a morte. Quando Afrodite se afasta, Psiquê se desespera e pensa mais uma vez em suicídio. Ela dirige-se ao rio que a separa dos carneiros, mas com a proposta de se matar, porém, no último instante, uma voz sai dos juncos da margem do rio e lhe diz que ela poderia se aproximar dos animais durante o dia, pois os animais a matariam, mas que se ela procurasse um espinheiro na margem do rio no início da noite, então poderia recolher a lã que costumava ficar presa nos espinhos e, assim, ela poderia obter a lã necessária para contentar Afrodite. Psiquê assim fez e pela segunda vez conseguiu realizar a tarefa.
Afrodite retorna e não consegue crer que Psiquê tenha conseguido completar a segunda tarefa e enfurecida decide derrotar a moça na terceira tarefa. Ela pede que Psiquê encha e entregue a ela uma taça de cristal com a água do rio Estige. Este é um rio circular que nasce no alto de uma montanha e sua escalada é muito íngreme, em sua descida o rio desaparece sob a terra passando pelas regiões abissais do inferno e então retorna as suas origens. Além disso, o rio é guardado por terríveis monstros o que torna impossível a sua aproximação. Afrodite retira-se confiante de que a moça não conseguirá realizar a tarefa e Psiquê outra vez se desestrutura e fica imobilizada por não saber como realizar tal feito e sua descrença é tão grande que ela sequer consegue chorar. Neste momento aparece a águia de Zeus, pois o poderoso deus quer ajudar seu filho Eros e assim ordena que sua águia vá até Psiquê e então a águia pega a taça de cristal das mãos da moça e voa até o rio, enche a taça e a traz de volta para Psiquê. Assim Psiquê consegue realizar a terceira tarefa.
Afrodite retorna e vê que a terceira tarefa fora também realizada e então resolve dar a mais difícil das tarefas, algo que será impossível a moça realizar. Afrodite ordena que Psiquê desça até os infernos e procure Perséfone, a esposa de Hades, o senhor do mundo inferior e dos mortos, e consiga com ela um pequeno cofre onde ela guarda seu ungüento da beleza. Afrodite se retira certa de que finalmente daria fim à moça. Psiquê mais uma vez se desespera e então sobe em uma alta da torre para de lá se jogar, pois somente morrendo poderia chegar ao mundo dos mortos. Psiquê antes de consumar sua estratégia fatal recebe novamente ajuda e desta feita não é de um ser vivo e sim da própria torre em que subira. A torre lhe explica como realizar sua jornada ao mundo dos mortos. A torre diz que Psiquê deverá levar nas mãos dois pedaços de pão de cevada e na boca duas moedas, que no caminho deverá recusar ajudar um homem coxo e também não deverá salvar um homem que estará se afogando, além de não se intrometer com as três tecelãs do destino e que ela também deve recusar qualquer coisa que lhe for dada para comer. A torre instrui que as moedas serão para pagar o barqueiro Caronte que faz a travessia do rio Estige em sua ida e volta e que os pães serviriam para alimentar Cérbero, o cão de três cabeças e guardião das portas do inferno. E Psiquê em sua jornada paga o barqueiro Caronte na ida e na volta com uma moeda; encontra um homem coxo que lhe pede ajuda para apanhar a lenha que caíra de seu jumento e nega ajuda; encontra um homem que está se afogando e também recusa ajudá-lo; encontra as três tecelãs do destino e apesar do desejo de interagir com elas segue seu caminho; fica diante de Cérbero, o cão de três cabeças e atira um pedaço de pão na ida e outro na volta e em ambas situações as cabeças brigam entre si, pois é apenas um pedaço de pão e três cabeças e enquanto as becas de Cérbero brigam, Psiquê se aproveita e passa por eles; encontra Perséfone que simpatiza com ela e lhe oferece um banquete que gentilmente é recusado e, por fim, ganha de Perséfone o cofre com o ungüento da beleza. Bastaria agora à Psiquê entregar o cofre à Afrodite e ela teria cumprido todas as tarefas, mas não é isto que acontece.
 

Psiquê tem o pequeno cofre com o ungüento da beleza de Perséfone nas mãos e questiona por que ele seria tão importante para Afrodite e movida pela curiosidade e pela idéia que já não estava tão bela devido às duras tarefas que enfrentara decide por abrir o cofre, mas ao invés de encontrar a beleza, Psiquê encontra o sono da morte.
Eros que sabia ou sentia que sua amada corria perigo, já curado de sua ferida, voa até Psiquê e encontra-a adormecida na morte e então coloca novamente o sono da morte no cofre e desperta Psiquê. Após, o deus do amor leva sua amada até o Monte Olimpo e pede a seu pai, Zeus, que este a transforme em deusa. Afrodite aparenta concordar com a idéia e com a anuência dos demais deuses, Psiquê é então transformada em deusa e, desta forma, Eros e Psiquê se casam e ela dá à luz uma menina que se chama Prazer.
 

 

Paulo Rogério da Motta

04 julho 2011

Se...



"Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora...
Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável :
Além do pão, o trabalho.
Além do trabalho, a ação.
E, quando tudo mais faltasse, um segredo:
O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída."

Mahatma Gandhi



 

A maioria das pessoas que conheço...

A maioria das pessoas, que conheço, diz não acreditar em Deus...
Isso não é um grande problema, nem mesmo para Deus...
Elas não conseguem nem acreditar em se mesmas.

A maioria das pessoas, que conheço, diz ser legais e totalmente descoladas...
Na verdade passam horas estudado as pessoas legais de verdade...
E fazem tudo ao contrário do que essas fazem.

A maioria das pessoas, que conheço, diz ser integras e de personalidade...
No entanto, não se importariam que o título desse texto fosse...
A maioria dos personagens que conheço.

A maioria das pessoas, que conheço, diz não serem preconceituosas...
Mas, nem coragem para serem preconceituosas elas tem...
Como vão ter coragem para, de fato, ver o mundo sem preconceitos.

A maioria das pessoas, que conheço, diz saber de muitos assuntos...
Mas tem medo de saberem sobre se mesmas...
Elas costumam ser e acreditar no que não são.

A maioria das pessoas, que conheço, diz ter muitos amigos...
Na verdade, só conhecem muitas pessoas iguais...
Afinal eles são a maioria.

A minoria das pessoas, que conheço, diz pouco...
Observam mais e criticam menos...
Conhecem outras poucas pessoas, uma minoria que é boa de conhecer...

A minoria das pessoas, que conheço, acredita na maioria das pessoas...
Mesmo que cada uma delas prefira ser a maioria, buscando por uma felicidade comum...
Enquanto a minoria procura por sua felicidade própria.


Fernanda Almeida